domingo, 16 de novembro de 2014

Contra a modéstia no mundo do banditismo

Ontem, um meliante aproximou-se de mim para me pedir um " cigarrinho". Fiquei ofendido. Não fiquei chateado por quase ter sido assaltado. Era o que faltava.  O que me deixou amesquinhado foi o diminutivo. Porquê um " cigarrinho"? Por que raio não me pediu antes um  cigarro ou, quiçá, um charuto? É precisamente esta falta de ambição no mundo do banditismo que precisa de ser combatida.  É muito raro ser abordado por alguém que me solicite um " cigarrão". Anseio por ser abordado na rua por um larápio que me peça um charuto cubano. Se é para pedir, que se peça como deve ser. É que pedir um " cigarrinho" é insultoso para ambas as partes envolvidas: tanto para o pedinte como para o putativo dador do " cigarrinho".

É insultoso para quem pede porquanto significa que se trata de um meliante que se contenta com pouco, logo está no mundo da gatunagem com pouco profissionalismo - e como isso é reprovável. Ao mesmo tempo, é uma invectiva para o sujeito abordado porque, na verdade, o que o meliante nos quer é dizer : " Tu não tens pinta de ser alguém que me possa dar mais do que um cigarrinho.". No fundo, é gente que nos interrompe no nosso percurso não tanto pela nicotina, mas sobretudo para nos chamar " borra-botas".

A verdade é que ninguém sai bem deste tipo de encontros, o que faz com que se percam inúmeras oportunidades de convívio salutar e de criar belas amizades. MGC

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Vistos Brass

A ideia dos vistos gold conseguiu o meu fascínio desde o primeiro instante. E sabe Deus como o meu fascínio é difícil de ser captado. O meu encantamento começa logo no epíteto atribuído aos vistos. Qual a razão que está subjacente à escolha do ouro para o apodo dos vistos? De entre a miríade de metais existentes, porquê optar pelo ouro? A escolha não me parece feliz, porquanto toda gente sabe que o ouro tem má fama. Senão vejamos: quem é que normalmente costuma andar atulhado de ouro? Os ciganos, evidentemente. E como a lisura e retidão dos ciganos nos negócios é bem afamada.

Por que não vistos silver? Sempre dava um ar de maior modéstia. Investir em Portugal não é assim tão bom. Não há necessidade de estar a criar falsas expectativas nos sempre ingénuos corações dos empresários angolanos e chineses. A prata servia perfeitamente. Se, pelo contrário,a ideia era mostrar que somos um paraíso do investimento, por que não escolher a platina? Se é para sermos garganeiros, sejamos garganeiros como deve ser. Já para não falar da ostracização a que o cobre e o zinco são repetidamente vetados em situações congéneres.

Se ao princípio tinha algumas dúvidas em relação a estes vistos, com a notícia da detenção de 11 suspeitos as minhas dúvidas dissiparam-se. Trata-se de uma ideia visionária e que tem pernas para andar - com as mãos não se pode contar muito pois estarão muito ocupadas a, digamos assim, " roubar".  Neste processo, ambas as partes estão em sintonia: tanto as autoridades que atribuem os vistos como os empresários a quem os vistos são atribuídos  são o que juridicamente se chama " uma cambada de gatunos".

Não sei  é se os empresários que tencionavam investir cá vão gostar muito de saber destas detenções. Com a concorrência de outros empresários biltes eles ainda se aguentam, agora ter que levar também com trapaceiros vindos dos orgãos de Justiça e do governo começa a ser concorrência a mais. MGC



quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Alvo fácil

 Hoje, alguém acusou-me  - a propósito de já não sei o quê -  de ser um  " alvo fácil". Após alguma meditação, cheguei à conclusão de que o meu intercolutor estava irremediavelmente certo.  É verdade. Sou um " alvo" e também sou "fácil". Há pessoas que não se contentam em estar apenas certas, mas fazem questão que a sua correcção seja irremediável. Mas vamos por partes.

 Primeiro, parece-me que não há dúvidas de que sou "alvo", no sentido em que " alvo" é um adjectivo que designa algo ou alguém que é branco. Basta olhar para a minha cútis e aspecto de finlândes com problemas de crescimento para se captar facilmente a minha alvura.  Sendo alvo uma palavra polissémica, também podia dar-se o  caso do meu intercolutor estar a querer dizer que sou um "alvo" daqueles a que se atiram setas. Mas mesmo nessa situação ele estaria correcto. Pois, por exemplo, no trânsito, há minhas setas das quais eu  sou um dos "alvos" e um dos propósitos delas ali estarem.

Depois, também sou " fácil".  Atendendo aos meus elevadíssimos níveis de concupiscência, para me convencer não é muito complicado. Basta recorrer a belos exemplares da anatomia feminina. Mesmo recorrendo a medianos exemplares são capazes de me conseguir levar. Isto, obviamente, assumindo que é "fácil" encontrar belos e medianos exemplares da anatomia feminina que queiram privar comigo.  MGC

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Metamorfose

Ultimamente tenho sangrado com alguma frequência da cabeça. Tendo em conta que futeboliscamente sou aquilo a que na gíria se chama um " tosco", começo a pensar na possibilidade de me estar a transformar no Maurício do Sporting.  Começam a ser coincidências a mais.É nestes momentos que invejo a sorte de Gregor Samsa. MGC